16 de setembro de 2013

Educar é, antes de tudo, conscientizar



Isto significa que conscientizar se insere em todo o processo educativo. Vejamos. Proponho que educar é envidar ações que levem o educando a tomar conhecimento e fazer uso das condutas necessárias a seu desenvolvimento físico; a reconhecer seus padrões construtivos e destrutivos e a lidar com eles de modo adequado; a distinguir seu papel nas relações interpessoais; a se tornar ciente de seus direitos e deveres no âmbito social; a perceber que o aprendizado intelectual é um instrumento imprescindível à aquisição da liberdade de pensar e da capacidade de fazer escolhas adequadas; por último, a se dedicar a este aprendizado.
Esta concepção de educar é apenas um detalhamento baseado numa definição do Aurélio, que diz: Educação é o processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social.
Se atentarmos cuidadosamente no que proponho como objetivos das ações educativas, veremos que a família tem um papel preponderante na consecução deles. Somente os dois últimos exigem a participação da escola, embora ela deva contribuir para que os demais sejam igualmente alcançados.
Ora, os pais, em sua maioria, não têm condições de cumprir todos os requisitos referentes a seu papel de educadores, pois não foram suficientemente educados. Se o filho bate em outra criança, eles se mostram compreensivos, caso contrário ficam furiosos. À noite, horário em que geralmente os membros da família têm oportunidade de interagir, uns se ocupam assistindo à TV, outros no computador. E assim segue a vida.
Se a criança chega à escola com pouca ou nenhuma educação doméstica, terá grande dificuldade de se adaptar ao novo ambiente, principalmente porque grande parte dos professores não está preparada para lidar com aluno difícil. É bom lembrar que os docentes podem também ter tido uma família incapaz de exercer satisfatoriamente o dever de educar. A coisa toda se complica ainda mais, quando um deles toma uma medida, às vezes correta, com a finalidade de corrigir uma conduta deseducada, e os pais do aluno em questão revoltam-se e o agridem. O prejuízo do professor será apenas o mal-estar, o do aluno será provavelmente jamais se tornar um verdadeiro cidadão.
Os efeitos das falhas no processo educativo alastram-se em toda a sociedade, vão até nossos governantes; muitos deles certamente vieram de lares e escolas que falharam neste aspecto. Como consequência, chafurdam no exercício da não cidadania e, portanto, não têm nenhum interesse em mudar tal situação.
Que fazer então diante desta realidade? Você deve estar perguntando-se, caso tenha tido a sorte de ser educado adequadamente. Difícil responder. Mas tenho sido assaltada por um sonho louco, no qual todos os verdadeiros cidadãos contribuem de alguma forma para educar pelo menos uma pessoa fora de sua família. No futuro deste sonho, nossos bisnetos são os pais, e o mundo é um lugar bem melhor de se viver.

MORGANA GAZEL,  autora de romances, poemas e contos.

NOTA: Artigo publicado no jornal A Tarde. Salvador – Quinta-feira, 19/7/2012. Imobiliário, página 6.



6 comentários:

Anônimo disse...

Minha mulher recortou um artigo seu e pregou aqui na cozinha para lermos e relermos. O nome do artigo é “Educar para conscientizar”. Achamos excelente! Parabéns!
(Comentário, enviado por email, de Carlos Ribeiro; jornalista, escritor, ensaísta e doutor em literatura)

Anônimo disse...

Morgana

Sempre fui de opinião que a educação de uma criança começa no berço. Nunca deixei a tarefa de educar meus filhos apenas para o professor. A educação a que me refiro é aquela em que a criança é ensinada a ser respeitosa, ordeira e cumpridora dos deveres que atribuímos a elas desde que nascem e proporcional à sua idade. Deixei para a escola a tarefa de ensinar-lhes a devida interação social e a educação erudita que completamos em casa com a obrigação da leitura e participação da vida familiar sobre todos os aspectos.

Patricia Lins disse...

Gostei tanto que tomei a ousadia de publicar lá em meus blogs - citando a fonte e deixando o link para o blog.

Obrigada, mais uma vez, por nos presentear com essa expressão de pensamento tão necessária nos dias atuais!

Carlinda disse...

Parabéns, Morgana Gazel, por contribuir com a Educação Brasileira, através do seu texto "Educar para Conscientizar". Essa é uma temática bastante real e que precisa ser debatida e refletida na Escola e na Família. Após ler o seu texto, fiz uma longa viagem pelas escolas e pelos lares de cada família do meu país. Famílias ricas, muito ricas que não tem tempo nem pra conhecer direito o seu próprio filho ou filha, famílias pobres, muito pobres que não podem oferecer ao filho um pão no café da manhã. Famílias com distorções de valores, que consequentemente é o que tem pra oferecer ao seu filho. Toda essa realidade encontra-se realmente na ESCOLA, que jamais poderá exercer o papel de FAMÍLIA. Sugestão: Penso que se cada SEC de cada estado e de cada município brasileiro, tendo como base o seu texto pudesse executar na escola vários projetos para integrar escola/família num processo conscientizador para formar verdadeiros cidadãos e cidadãs, teríamos em breve um mundo bem melhor. O seu texto é um verdadeiro PROJETO DE EDUCAÇÃO!

Maurélio disse...

Excelente artigo, um projeto de educação maeavilhoso, parabébs amiga,bjsss

Morgana Gazel disse...

Obrigada, Carlinda. Seu comentário é enriquecedor. Se realmente nossos governantes colocassem em prática projetos como os que você sugere, o problema da educação seria resolvido num tempo bem menor, talvez até pudéssemos alcançar as mudanças decorrentes desse processo.