Se você pretende escrever histórias
inventadas, dê um tempo a sua mente para que ela crie as condições adequadas à
nova tarefa. Não tenha pressa, aja como se tivesse feito um convite e aguarde
com paciência o visitante. Enquanto isso,
observe, com atenção, ambientes, paisagens e, de todas as pessoas que puder,
seus gestos, tons de voz e expressões corporais. Tente imaginar o que pensam e
sentem. Lembre-se: o mundo é o laboratório do escritor. Antes de dormir,
visualize-se escrevendo.
Procedendo dessa forma, dia após dia, é
possível que uma boa ideia se apresente como tema. Esta ideia pode surgir como
se viesse do nada ou em decorrência da observação de fatos reais, tenhamos ou
não participado deles. O enredo da história também ocorre de maneiras diversas,
completo ou em partes. Quando se revela, está na hora de começar a escrever, as
cenas vão-se apresentando devagar.
Assim fiz, a partir de certo momento em
que fui assaltada por um desejo insuperável de escrever ficção. Durante o tempo
de espera, cursos, estudos, muitas leituras e o olhar de aprendiz que jamais se
apartou de mim. O tema e o enredo do meu primeiro livro chegaram repentinamente
e no mesmo instante. Acordei com os dois em minha mente.
Ao longo da escrita, tive sonhos
que eram verdadeiras aulas de literatura; informações acerca da elaboração do
texto e da caracterização dos personagens. Destes últimos, destacou-se uma narradora
pronta e exigente. Logo percebi que não deveria tentar mudar coisa alguma que ela
sussurrasse em minha mente, caso contrário, a criatura prontamente emudecia. Disputou
ferozmente a escrita deste livro com minha personalidade normal, a que vivencia
o dia-a-dia, tem filhos, netos, amigos, exerce a profissão de psicóloga, enfim
a que “sou eu”. Algumas vezes, eu tentava alterar o que parecia em desacordo
com meus conhecimentos da psicologia humana. Sua resposta era o silêncio.
Resolvi então aceitar tudo o que viesse dela, passei a usar a lógica apenas quando
dava forma e corrigia o texto ou na adequação da história ao ambiente temporal,
geográfico e social. No inicio, para manter tal conduta, antes de começar a
escrever, dizia a mim mesma: “Agora sou Morgana Gazel”, nome com o qual batizei
esta narradora.
Levando em conta o que ocorre comigo no
ato de escrever romances, fico a imaginar que, em qualquer atividade criadora,
acessamos uma dimensão misteriosa, onde cenas, imagens, sons e concepções
pululam à semelhança do mundo das ideias de Platão. Gosto de pensar que nesta
dimensão o Grande Artista toca sua música e a nós, sujeitos ao cogito cartesiano,
cabe apenas dançar. Felizes daqueles que são capazes de soltar o corpo de modo
a se deixar levar pelo ritmo e pela melodia.
Morgana Gazel
Autora de romances, poemas e contos.
Autora de romances, poemas e contos.
Nota: Este artigo, já publicado neste blog, foi adaptado para o
jornal.
4 comentários:
Beleza de artigo, Morganática. Boas dicas para os iniciantes, e também para os que já se dedicam a escrita literária . Parabéns pela clareza com que expõe suas idéias. Abraço da rebrilha Daisy Buazar
Querida Morgana Gazel, adorei saber do nome. O texto é um primor, vou fazer "os exercícios"; uma das coisas que mais gosto é de observar pessoas, ambientes, as diferenças entre árvores, paisagens, cores, e... a vida, o mundo!!!!!!!! Seu blog é tudo isto. Ah, adorei as fotos no facebook, voltarei à sua página. Beijos
Olá, Morgana Gazel
bom dia.
Dei umas espiadinhas no seu Blog e gostei do que li; muita sensibilidade acima de tudo.
Abraço,
Guacira
www.gpoetica.blogspot.com
Que lindo texto, permeado de delicada sensibilidade, refinada percepção e palavras que alcançam o íntimo. Parabéns! Abraços.
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