O centenário de dois brasileiros
excepcionais, Nelson Rodrigues e Jorge Amado, tem sido motivo de comemorações
de toda ordem, com justa causa. Como poucos, expõem a alma brasileira por meio
de raios X que revelam virtudes, defeitos e curiosidades que enaltecem o
particular estilo brasileiro de ser.
Nelson Rodrigues e Jorge Amado, além do
talento comum parecem ser avessos a comemorações, no entanto não passariam
impunes.
Nelson e Amado se vivos estivessem
brindariam, neste agosto, um centenário frutífero, rodeados de amigos, fãs,
admiradores, com festas por todo lado apesar da discrição que mantinham sobre
si e suas obras. A obra eterniza seu criador e podemos sentir claramente esta
afirmação na história de ambos.
Nelson foi jornalista, escritor e um crítico
feroz da hipocrisia. Mantinha uma lente
de aumento nas mazelas humanas e na sociedade. Escrevia o lado obscuro da
humanidade e falava das coisas que geralmente colocamos para baixo do tapete,
cujo pano de fundo era quase sempre a morte onde, segundo Nelson, residia o
sentido da vida. Razão que o fez ser considerado, por muitos, irreverente e
incompreendido.
Expunha as vísceras da alma humana. No
teatro escreveu um capítulo à parte, singular, para especialistas criou o teatro
rodrigueano, quiçá o universo Nelson Rodrigues, na verdade um jeito todo seu de
colocar em cena ‘a vida como ela é’. Um bom
exemplo, entre tantos de seus escritos, é a conhecida peça ‘Vestido de Noiva’,
um marco divisório na dramaturgia brasileira. Tamanha a força de suas obras que
ainda hoje nos põem a refletir, tempos depois de escritas.
Imortal Jorge Amado, boa praça, bom de papo
como ninguém, falou, escreveu e levou aos quatro cantos do mundo o nordeste,
sua gente, seu jeito, suas peculiaridades, mostrando um Brasil recheado de uma
cultura tão rica e viva, porém desconhecida até seus escritos primorosos. Muito
fez por nossa literatura, viveu-a intensamente de fato e direito, deixando um
legado tão inquestionável quanto vasto. A maioria delas muito bem retratada não
só em TV como em cinema, mundo afora.
Sua interferência política deu voz ao povo
menos favorecido tornando-se deputado federal e criando leis dignas como a do
direito autoral e da liberdade religiosa. Sabia o que fazia, apesar da modéstia
que se imputava.
A arte se encontra como for, onde for, de
que jeito for e tem vida própria, como nos mostra o universo de Nelson e Jorge que,
em mundos diferentes, criaram um saber único, revigorando e inspirando os que
buscam o caminho da cultura.
Sabiamente diz o notável poeta, Ferreira
Goulart “a arte existe porque a vida não
basta”, máxima que nos ajuda a trazer o sentimento de um Nelson Rodrigues e
um Jorge Amado próximo de nós, absolutos e vivíssimos.
Por Rogéria Gomes
Jornalista e Escritora
grandesdamas@hotmail.com
Notas:
1 - Este artigo foi publicado no jornal A Tarde em 08/09/2012.
2 - Autor da foto de Rogéria Gomes: fotógrafo Marcelo Rissato.
Um comentário:
Que linda homenagem! E bem a merecem. As comemorações do centenário do Jorge Amado tb se estenderam a Portugal.
Beijinho
Ruthia d'O Berço do Mundo
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