20 de setembro de 2012

‘Memoráveis Mestres’


O centenário de dois brasileiros excepcionais, Nelson Rodrigues e Jorge Amado, tem sido motivo de comemorações de toda ordem, com justa causa. Como poucos, expõem a alma brasileira por meio de raios X que revelam virtudes, defeitos e curiosidades que enaltecem o particular estilo brasileiro de ser.

Nelson Rodrigues e Jorge Amado, além do talento comum parecem ser avessos a comemorações, no entanto não passariam impunes.
Nelson e Amado se vivos estivessem brindariam, neste agosto, um centenário frutífero, rodeados de amigos, fãs, admiradores, com festas por todo lado apesar da discrição que mantinham sobre si e suas obras. A obra eterniza seu criador e podemos sentir claramente esta afirmação na história de ambos.


Nelson foi jornalista, escritor e um crítico feroz da hipocrisia.  Mantinha uma lente de aumento nas mazelas humanas e na sociedade. Escrevia o lado obscuro da humanidade e falava das coisas que geralmente colocamos para baixo do tapete, cujo pano de fundo era quase sempre a morte onde, segundo Nelson, residia o sentido da vida. Razão que o fez ser considerado, por muitos, irreverente e incompreendido.
Expunha as vísceras da alma humana. No teatro escreveu um capítulo à parte, singular, para especialistas criou o teatro rodrigueano, quiçá o universo Nelson Rodrigues, na verdade um jeito todo seu de colocar em cena ‘a vida como ela é’.  Um bom exemplo, entre tantos de seus escritos, é a conhecida peça ‘Vestido de Noiva’, um marco divisório na dramaturgia brasileira. Tamanha a força de suas obras que ainda hoje nos põem a refletir, tempos depois de escritas.

Imortal Jorge Amado, boa praça, bom de papo como ninguém, falou, escreveu e levou aos quatro cantos do mundo o nordeste, sua gente, seu jeito, suas peculiaridades, mostrando um Brasil recheado de uma cultura tão rica e viva, porém desconhecida até seus escritos primorosos. Muito fez por nossa literatura, viveu-a intensamente de fato e direito, deixando um legado tão inquestionável quanto vasto. A maioria delas muito bem retratada não só em TV como em cinema, mundo afora. 

Sua interferência política deu voz ao povo menos favorecido tornando-se deputado federal e criando leis dignas como a do direito autoral e da liberdade religiosa. Sabia o que fazia, apesar da modéstia que se imputava.

A arte se encontra como for, onde for, de que jeito for e tem vida própria, como nos mostra o universo de Nelson e Jorge que, em mundos diferentes, criaram um saber único, revigorando e inspirando os que buscam o caminho da cultura.

Sabiamente diz o notável poeta, Ferreira Goulart “a arte existe porque a vida não basta”, máxima que nos ajuda a trazer o sentimento de um Nelson Rodrigues e um Jorge Amado próximo de nós, absolutos e vivíssimos.

                                                         Por Rogéria Gomes
                                                                        Jornalista e Escritora
                                                             grandesdamas@hotmail.com


Notas:

 1 - Este artigo foi publicado no jornal A Tarde em 08/09/2012.
 2 - Autor da foto de Rogéria Gomes: fotógrafo Marcelo Rissato.

Um comentário:

Berço do Mundo disse...

Que linda homenagem! E bem a merecem. As comemorações do centenário do Jorge Amado tb se estenderam a Portugal.
Beijinho
Ruthia d'O Berço do Mundo