Ao longo da elaboração do romance Enseada do Segredo, tive sonhos que eram verdadeiras aulas de criação literária e percebi que não deveria tentar mudar coisa alguma que a narradora que existe em mim trazia a minha mente. Se o fizesse, ela prontamente se escondia, e eu nada mais conseguia escrever. Essa tal narradora disputou ferozmente a escrita deste livro com minha personalidade normal, a que vivencia o dia a dia, tem filhos, netos, amigos, exerce a profissão de psicóloga, enfim a que “sou eu”. Ela, a narradora, apresentava as cenas, eu tentava alterar o que parecia em desacordo com o que conheço da psicologia humana, ela emudecia. Então resolvi escrever tudo o que viesse dessa subpersonalidade e usar minha lógica apenas na escolha do formato e na correção do texto. Para manter essa conduta, antes de começar a escrever eu dizia a mim mesma: “agora sou Morgana Gazel”, nome com o qual resolvi denominá-la.
Levando em conta essa dinâmica que ocorre comigo ao escrever ficção, fico a imaginar que em qualquer atividade criadora acessamos uma dimensão misteriosa, onde cenas, imagens, sons, concepções, pululam à semelhança do mundo das ideias de Platão. Gosto de pensar que nesta dimensão o Grande Artista toca sua música e a nós, sujeitos ao cogito cartesiano, cabe apenas dançar. Felizes daqueles que são capazes de soltar o corpo de modo a se deixar levar pelo ritmo e pela melodia.
Morgana Gazel
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Um comentário:
Querida Morgana,
seu processo ao escrever Enseada do Segredo é o que eu chamaria corpo-de-sonho, minha tese de doutorado. A arte é uma forma de percepção e consciência expressiva, uma forma lógica do sentimento humano. Numa dimensão somos agentes, todos os movimentos que você fez em sua escrita, inclusive sua escolha em se abandonar ao que você chama de narradora em voc~e. Noura dimensão somos um canal para que a escrita se faça. Lhe falei "almas irmãs", porque vivo coisas semelhantes às que você conta. Adorei seu recado pela REBRA. E o em meu blog. Publiquei suas reflexões em: "o que é ser poeta". Bjs
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