12 de dezembro de 2011

Uma cena de desejo / do romance "Enseada do Segredo"


Terminado o serviço, sentaram-se no sofá e ficaram folheando um álbum de fotografias. Apesar de Fred esforçar-se em evitar, as mãos dos dois algumas vezes tocavam-se, o fogo agitava-se. Ao perceber um leve tremor nas mãos de Dolores, Fred levantou-se pensando em fingir que iria ao banheiro, entretanto não chegou a falar; no segundo seguinte, a garota estava de pé, tão perto, que partes salientes de seu corpo tocavam levemente nele.

— Você está sentindo o mesmo que eu? – ela sussurrou e lhe apertou a mão.

— Não sei – ele disse, a voz repentinamente rouca.

Dolores acariciou-o na face, nos lábios, o rosto dele ruborizou-se e toda a pele esquentou. O fogo espalhava-se.

— Vamos ficar juntos? – ela sussurrou novamente, como se juntos já não estivessem.

Em vez de responder, Fred enrijeceu-se, tentava controlar-se; não deveria ser injusto com Dolores, ela era sua amiga! Como conseguia pensar em dever ou justiça num momento como esse, não foi possível entender.

— Vamos – ela insistiu. – Sei que você está sentindo o mesmo que eu.

— Dolores... você precisa saber... – começou a dizer, engasgado, enquanto uma mão tocava-o na nuca e a outra escorregava pela abertura de sua camisa. Ainda assim ele continuou: – Tive uma namorada no Brasil, de quem não me desliguei totalmente.

— Não se aflija – Dolores murmurou tranquilizadora. – Você não tem de se desligar – acrescentou a olhá-lo com seu olhar molhado e... insuportável.

— Não se trata disso – Fred parecia lamentar. – É que... bem... não quero compromissos, namorar ninguém seriamente – quase venceu a luta contra o fogo.

— Não é namoro – Dolores disse baixinho, seu hálito atiçando o fogo de Fred, ela ofegava. – O que eu quero – com os olhos fixos nos dele, abria-lhe a camisa, botão a botão – é apenas – suspirou – viver isso agora. Você quer?

— Eeu... – gaguejou, envolto por labaredas vorazes que lhe afugentaram a razão. Não mais se controlou; acariciava-a quase violento e mergulhou num gozo desvairado várias vezes até extinguir o fogo.


(Trecho do "Enseada do Segredo", 1ª edição)


2 comentários:

Mel disse...

Hoje consegui entrar em seu Blog.
Fiquei fascinada, acredite!
Há muitos anos atrás nos conhecemos num restaurante, tanto tempo se passou e quanta coisa mudou. Agora lhe vejo poeta, escritora de uma sensibilidade incrível. Parabéns Morgana! Voce ganhou mais uma fã!

Paulo Avila disse...

Alam de ewscritora, traduz com beleza e doçura o desejo na literatura. Muito bom!