27 de agosto de 2013

ENSEADA DO SEGREDO – Sinopse


Fred reside com a mãe num subúrbio à margem de uma aprazível enseada. Tem dois amigos sinceros, conquista a garota sonhada, participa de jogos de futebol e vence um importante torneio de natação.

No entanto tem sonhos incompreensíveis e é invadido por devaneios que o deixam infeliz e ressentido. Isso parece indicar que há algo errado em sua vida! Ele pouco sabe do pai, de quem ficou órfão antes de nascer, o que conseguiu arrancar da mãe não o satisfaz. Também desconhece o que acontece no país por trás da aparente normalidade, somente ouve comentários acerca de desaparecimento de pessoas, os jornais nada noticiam.

Numa noite insone, resolve ir à cozinha tomar um copo de leite. Ao passar em frente do quarto da mãe, paralisa-se: ela chora e fala com alguém pelo telefone. Ao escutar uma frase clara e desesperada, sente-se atravessando um túnel que o leva de um mundo ilusório para um real de extrema crueldade, onde terá de enfrentar uma verdade inimaginável. Incapaz de suportar tal situação, abandona os amigos, a namorada, a enseada e vai embora para outro país.

Quando enfim se acostuma à condição de estrangeiro solitário, encontra uma carta sobre o tapete à entrada do seu quarto. Apalpa-a, sacode, com as mãos trêmulas, parece temer as notícias que ela lhe traz. E, de fato, a leitura deixa-o transtornado.

O que faria agora? Naquele instante, Fred não conseguia responder.


Morgana Gazel - autora 

9 de agosto de 2013

O escritor, seu papel e desejo


(Artigo publicado no jornal A Tarde, em 31/08/2013, caderno Classificados)

Prefiro começar pelo desejo, questão mais complexa, com frequência, irreconhecível até por quem o sente.
Alguns escritores dizem que, ao escrever, desejam apenas se expressar. Para que então publicar? Por que não guardar numa gaveta o fruto dessa expressão? Seria compreensível que o mostrassem aos amigos, como é comum pessoas fazerem quando adquirem ou produzem algo que consideram importante.
A discrepância, entre o que o sujeito diz e faz, denuncia que ele não sabe ou teme declarar o que se passa consigo. Plagiando a frase de Shakespeare, “Há mais coisas entre o Céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia”, ouso afirmar: Há mais coisas entre os sentimentos e sua não percepção ou não aceitação, do que supõe nossa vã filosofia. Neste caso, costumamos chamar as tais coisas de defesas inconscientes, das quais também dificilmente nos damos conta.
Quem quiser descobrir o que o leva a escrever precisa perscrutar-se cuidadosa e corajosamente. Talvez se depare com mais respostas além da corriqueira: expressar-se. Exemplo de algumas delas: entreter ou entreter-se de modo a aliviar as tensões cotidianas; ser compreendido, mostrando o que sente e pensa; ser admirado; ficar rico e famoso; ser reconhecido pela classe social mais intelectualizada; informar o que imagina que a maioria dos leitores desconhece; contribuir para a ampliação da consciência subjetiva e social; etc.
Quanto ao papel, observando os significados desta palavra no Aurélio, “atribuição de natureza moral, técnica, etc.” e “desempenho”, podemos pensar que se refere à forma que o escritor escreve e à sua ética. Ele tem um estilo próprio? Seus escritos são originais ou quase uma cópia de alguma obra atual bem-sucedida ou antiga e de domínio público? Notifica quando seu texto é baseado em outro ou numa situação real? Se seu produto é uma história, o narrador é honesto com o leitor?
O desejo, considerando-se o que foi dito acima, às vezes nem quem o sente consegue identificar, porém estas e outras perguntas podem ser involuntariamente elaboradas por qualquer leitor atento e com algum conhecimento literário, de modo que lhe salta aos olhos se o escritor cumpre ou não adequadamente seu papel.
Parabéns ao escritor que ao ler este artigo não se reconhece em nenhum dos aspectos, digamos, tidos pelo bom senso como negativos.


Morgana Gazel
Escritora e psicóloga
Autora de romances, poemas e contos.

1 de agosto de 2013

Poema contemplado no concurso de poesia CEPA-62 ANOS (5º lugar).












Aletologia

No embate entre você e eu
me refiz me transformei.
A palavra era de prata,
apenas no Ateneu.
Percebi, despertei.

O verbo se tornou carne
passageira como a brisa.
O som, no espaço, é imune.
O saber, no silêncio, se eterniza.
 
Morgana Gazel